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Entrevista 7 – Prof. Dr. Rodrigo Daniel Sanches

Convidamos o Dr. Rodrigo Daniel Sanches, que integra o Conselho Editorial da Editora Emeritus, para uma conversa sobre saúde e comunicação, tendo como gancho a campanha Novembro Azul.


Confira a entrevista completa a seguir:

Pós-doutorando em Comunicação pela Faculdade Cásper Líbero (FCL/SP) e vice-líder do grupo de pesquisa Comunicação, Cultura e Visualidades da mesma instituição. Doutor em Psicologia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FFCLRP/USP), onde desenvolveu pesquisa em interface entre a Comunicação, Publicidade e Psicologia. Docente na pós-graduação lato sensu do Centro Universitário Belas Artes. Mestre em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica (PUC/SP). Sua dissertação resultou na publicação, com apoio da FAPESP, do livro "Do homem-placa ao pixman: o corpo como suporte midiático". Possui graduação em Comunicação Social (Publicidade e Propaganda) pelo Centro Universitário Ibero-Americano. Docente em cursos de graduação (Publicidade e Propaganda, Design Gráfico e Administração). É pesquisador do CISC (Centro Interdisciplinar de Semiótica da Cultura e da Mídia - PUC/SP) e do E-L@DIS (Laboratório Discursivo: sujeito, rede eletrônica e sentidos em movimentos - FFCLRP/USP).


Emeritus: Você é Graduado e Mestre em Comunicação Social e desenvolveu seu Doutorado em Psicologia. Como se deu a aproximação entre essas duas áreas em termos de formação acadêmica?


Prof. Dr. Rodrigo Daniel Sanches: Quando optei pelo Doutorado em Psicologia, procurei mobilizar referenciais teóricos e metodológicos de algumas áreas da Psicologia para compreender como determinados processos comunicativos que circulam na mídia podem atuar na construção de um ideal de corpo feminino. Especificamente, procurei investigar e compreender como o discurso midiático das novas dietas e boa forma afeta a relação da mulher com o seu corpo na atualidade e, consequentemente, influencia na construção de subjetividades e em práticas e condutas sociais. Logo, a aproximação entre a Comunicação e a Psicologia tornou-se cada vez mais instigante e, na minha análise, até necessária. Ambas nos ajudam a compreender fenômenos sociais que reverberam na sociedade e são ensejados por discursos midiáticos.


Emeritus: De que maneira enxerga o diálogo entre Comunicação e Saúde no contemporâneo? Principalmente, no contexto da pandemia de Covid-19.


Prof. Dr. Rodrigo Daniel Sanches: A comunicação nunca se mostrou tão importante na promoção da saúde como agora. No entanto, como todo fenômeno complexo, também a comunicação precisa, em alguns momentos e cenários, ser discutida, repensada. No contexto da pandemia, por exemplo, veículos de mídia se uniram em um consórcio para manter a população informada sobre os números da pandemia no Brasil. Uma atitude extremamente importante e bem-vinda. Porém, em outros cenários, a atuação da mídia deve ser analisada com mais cautela. Daí surgiu a ideia do livro “Mídia & Comportamento: relações entre comunicação e saúde mental” (Ed. Cásper, 2021), que reúne pesquisadores e profissionais das áreas de comunicação e saúde (psiquiatria, nutrição, jornalismo, publicidade, neurociência e história da arte). Organizado por mim, pela Profa. Simonetta Persichetti e pela psiquiatra e docente Maristela Schaufelberger Spanghero, a obra tenta responder a seguinte questão: na relação com a práxis midiática, até que ponto somos os autores, os criadores das nossas opiniões, pensamentos e sensações? Com muitas perguntas, reflexões e inflexões, investigações e análises, o livro busca compreender, através de exemplos e cenários dos mais variados (arte, alimentação, tabagismo, sexualidade, pandemia, jornalismo científico, corpo, redes sociais, transtornos alimentares, entre outros), a intricada, labiríntica e nem sempre perceptível relação entre Comunicação e Saúde Mental.

Emeritus: A hipótese de sua tese de Doutorado é a de que o discurso midiático das novas modalidades de regime afeta a constituição da mulher e sua relação com o corpo na contemporaneidade. Poderia apresentar alguns aspectos de destaque da pesquisa?


Prof. Dr. Rodrigo Daniel Sanches: Há vários exemplos e análises que realizei durante o Doutorado (e que continuo investigando agora em um pós-doutorado em Comunicação na Faculdade Cásper Líbero) sobre a relação entre o que eu chamo de “texto midiático das novas dietas e forma” e a percepção do corpo feminino. Esse discurso promove um arrebatamento da mulher contemporânea, proveniente da sua força de interpelação. Enquanto fenômeno comerciável, faz vender uma gama (quase inesgotável) de produtos, serviços, procedimentos, cirurgias estéticas, alimentos e alimentação, exercícios, etc. Um exemplo claro (dentre tantos outros) é o discurso do novo e da novidade no universo das dietas. Atrelado à velocidade com que o discurso midiático circula na ambiência midiática, marca o processo de emagrecer como algo descomplicado e de resultados rápidos. E repetitivo. A mulher parecer estar sempre surfando nas ondas das novidades. As novas dietas esbarram na obsolescência do corpo, que é convocado a manter-se sempre jovem e sempre magro. Corpo novo, corpo renovado, corpo jovem. Não há espaço para o velho, o envelhecimento e, muito menos, para a morte. Qualquer marca imposta pelo envelhecimento deve ser impelida.

Emeritus: Estamos no mês da campanha novembro azul, que consiste na conscientização sobre os cuidados com o câncer de próstata. Na sua visão, e considerando os estudos em comunicação e saúde, há diferentes maneiras de abordagem de comunicação em relação ao gênero? Por exemplo, pensando na campanha Outubro Rosa para mulheres e Novembro Azul para homens.


Prof. Dr. Rodrigo Daniel Sanches: Seria necessário analisar mais profundamente cada caso. No discurso midiático das novas dietas e boa forma, por exemplo, a diferença entre gênero ficou evidente. Há uma forte primazia do feminino. Dados sobre o consumo de cosméticos, transtornos alimentares, cirurgias estéticas e mortes em decorrência de cirurgias estéticas mostram que a pressão é muito maior sobre as mulheres. Novamente, o texto midiático das dietas e corpo feminino compõem um cenário complexo e que pode estar subjacente ao aumento, por exemplo, dos transtornos alimentares.

No entanto, campanhas como Novembro Azul e Outubro Rosa fazem parte de outro cenário midiático e são extremamente bem-vindas. É a força da comunicação na promoção da saúde. Um aspecto importante: para o bem e para o mal, qual o impacto dos processos comunicativos e midiáticos na saúde do sujeito contemporâneo? A comunicação pode tanto ajudar na promoção da saúde quanto fomentar perspectivas não tão saudáveis. E é isso que devemos estar atentos a todo momento.

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