Convidamos a Drª. Roberta Scheibe, Professora Adjunta e vice-coordenadora do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Amapá (Unifap), para uma conversa sobre a sua participação como uma das organizadoras do e-book “Geração Streaming: Novas Formas de Comunicação”, publicado pela Editora Emeritus.
Na entrevista, Roberta Scheibe relata como é o processo de organização de um livro digital, as possíveis contribuições geradas pela obra, o aumento de interesse dos alunos por temas ligados à tecnologia, além de comentar o engajamento dos estudantes no desenvolvimento do e-book. Confira a entrevista completa a seguir:
Profª Drª. Roberta Scheibe
Graduada em Jornalismo e Mestre em Letras - Estudos Literários pela Universidade de Passo Fundo (UPF) e Doutora em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Professora Adjunta e vice-coordenadora do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Amapá (Unifap).
Emeritus: Por favor, conte um pouco da sua trajetória até se tornar professora na Universidade Federal do Amapá.
Profª Drª. Roberta Scheibe: Eu trabalhava como jornalista em rádio e em jornal. Trabalhei muito tempo no jornal da Universidade de Passo Fundo. Lá fui convidada para ser professora substituta. Quando terminou meu contrato como professora substituta na UPF, eu mandei meu currículo para trabalhar na Faculdade SEAMA, que hoje é chamada de Faculdade Estácio de Macapá. Fui aprovada e vim trabalhar aqui no Amapá. Eu nasci em Chapada, no Rio Grande do Sul, estudei e morei muito tempo em Passo Fundo, no mesmo Estado, e estava buscando outras experiências, especialmente no Norte do país.
A ideia inicial era ficar por 2 anos e provavelmente voltar para o Sul. Só que eu vim, trabalhei na SEAMA por 2 anos, cheguei a coordenar os cursos de Jornalismo, Publicidade e Relações Públicas, e acabei iniciando um relacionamento, um namoro e, em 2010, resolvi prestar concurso público para lecionar na Universidade Federal do Amapá. Fui aprovada, permaneci no Amapá, casei e atualmente sou Professora Adjunta do curso de Jornalismo, além de ser vice-coordenadora do curso.
Eu sou professora desde o início do curso de Jornalismo na Unifap, que teve a primeira turma em 2011. Até um pouco antes, ainda no segundo semestre de 2010, participei, junto com outros colegas, da elaboração do primeiro Projeto Pedagógico de Curso (PPC). Então, são quase 10 anos na universidade.
Emeritus: Ministra aulas em quais disciplinas?
Profª Drª. Roberta Scheibe: As disciplinas variam de acordo com o período, até porque a matriz curricular costuma mudar a cada quatro anos. Porém, geralmente, eu ministro aulas de Redação, uma vez que o tema do meu concurso foi Jornalismo Escrito.
Também já ministrei: Redação Jornalística, Introdução ao Jornalismo, Jornalismo Literário, Laboratório de Jornalismo, Trabalho Experimental e até Rádio, por ter experiência prática na área. Só não costumo dar aulas de Assessoria de Imprensa e de Televisão. As mais frequentes das que eu mencionei, no entanto, são Redação e Rádio.
Grupo de Pesquisa Comertec e Congresso Comertec Jr.
Emeritus: Desde quando participa do Grupo de Pesquisa Comertec (Comunicação, Mercado e Tecnologia)?
Profª Drª. Roberta Scheibe: Sempre tive uma boa relação com a Professora Cláudia Arantes, sempre escrevi artigos com ela e, em 2018, recebi o convite para participar do Grupo de Pesquisa, especialmente em uma das linhas do grupo que trata de Cidadania e Sociedade. Este ano, o Comertec criou dois grupos de estudos, um de “Narrativas Digitais” e outro de “Comunicação, Espiritualidade e Memórias”. Sou uma das coordenadoras dos grupos, o primeiro grupo em parceria com a Professora Cláudia e o segundo grupo de estudos em parceria com o Professor Paulo Giraldi. Em decorrência da pandemia do novo coronavírus, nossa ideia é fazer reuniões periódicas apenas online; no entanto, após a pandemia, gostaríamos de nos encontrar fisicamente, já que os grupos foram pensados para ter encontros presenciais.
Emeritus: Quando participou do evento Comertec Jr. pela primeira vez? Em qual função?
Profª Drª. Roberta Scheibe: Participei do Comertec Jr. desde a primeira edição do evento. Na primeira vez, a participação foi levando os alunos das minhas disciplinas como ouvintes. Posteriormente, comecei a participar mais ativamente, já como integrante do Comertec, inclusive coordenando Grupo de Trabalho durante o evento.
Emeritus: Acredita que, além de fortalecer o interesse por atividades acadêmicas, a participação de estudantes no evento gera algum tipo de benefício para o graduando, como atividades complementares etc.? Ou seja, há algum incentivo adicional para engajar ainda mais o estudante a participar do evento que deu origem ao e-book “Geração Streaming”?
Profª Drª. Roberta Scheibe: Os alunos participantes recebem horas de atividades complementares. Essas atividades são muito importantes para eles, já que precisam integralizar 300 horas em atividades complementares pelo nosso currículo. Então, ao participar do Comertec Jr., os estudantes conseguem pontuar em diversos tópicos das atividades complementares, como ouvinte do congresso, às vezes como integrante da comissão organizadora do evento, pela apresentação de trabalhos, publicação de artigo nos Anais, e até, eventualmente, por um capítulo no e-book, se estiver entre os melhores textos apresentados.
E-book “Geração Streaming”
Emeritus: O livro digital de 2020 tem como base os artigos apresentados no III Comertec Jr. Ele aborda as novas formas de conexão e comunicação, passando especialmente pela Geração Streaming. Houve algum motivo especial para abordar o assunto nos textos selecionados para compor o e-book?
Profª Drª. Roberta Scheibe: De certo modo, até pela relação com o Grupo de Pesquisa “Comunicação, Mercado e Tecnologia”, as discussões do Comertec Jr. sempre abordam algum aspecto ligado à tecnologia. No entanto, especificamente este ano, veio a calhar que praticamente todos os melhores trabalhos tinham pelo menos um componente que convergia com a questão tecnológica. O próprio ambiente em que o evento foi realizado, na sede do SEBRAE, com diversas atividades que envolveram startups, direcionaram o Comertec Jr. e o próprio e-book para essa linha da geração streaming. Lógico que nem todos os textos tratam diretamente desse assunto, mas a tecnologia permeia toda a discussão, seja por meio de plataformas, do rádio, do cinema, da TV, de séries, filmes, longform etc.
Emeritus: Você percebe interesse especial dos alunos de Graduação por temas relacionados à tecnologia?
Profª Drª. Roberta Scheibe: Percebo que os alunos gostam cada vez mais de tecnologia, pelo menos aqui na Universidade Federal do Amapá. No entanto, os estudos têm uma relação mais forte com o uso tecnológico como suporte, como algo que permeia, não como objeto principal de estudo. Por exemplo, tratam do rádio, da televisão, do smartphone, entre outros equipamentos, além da análise de conteúdo disponibilizado através dessas plataformas, por exemplo, filmes e séries, como é possível constatar nos artigos do e-book “Geração Streaming: novas formas de conexão e comunicação”.
Então, a temática varia ao longo dos anos. Pode ser que um ano a “Sociedade e Cidadania” esteja mais em alta, em outro ano a “Cultura Pop”, depois o “Esporte”, entre outros temas, mas a tecnologia acaba permeando todos esses assuntos. O aluno relaciona, por exemplo, o Esporte com a TV, com o Rádio ou com a Internet.
O rádio, em especial, é muito forte aqui no Amapá, porque é uma tecnologia muito usada na região, uma vez que muitas comunidades ribeirinhas ainda são informadas quase que exclusivamente por rádio, até porque, apesar de avanços na última década, a própria infraestrutura para uso de Internet aqui no Estado está longe do que seria o ideal.
A única questão que aqui ainda não é tão forte entre os nossos alunos de Comunicação tem relação com os temas mais ligados à programação, por exemplo. Nessa parte não vejo tantos estudos acontecendo, é um público mais restrito.
Emeritus: Qual a principal contribuição que o livro digital pode proporcionar ao leitor?
Profª Drª. Roberta Scheibe: A principal contribuição que o livro proporciona é mostrar a visão de mundo de uma geração específica, de um Estado específico, ou seja, de um tempo-espaço específico, no sentido de que, hoje em dia, nós vivemos em um tempo-espaço muito volátil. Então, a contribuição vale muito como um relato de uma geração, que retrata muito bem a realidade do Amapá atual. Serve até para a construção da história social do Estado, para que eventualmente, no futuro, pessoas que queiram entender o que se discutia por aqui possam consultar o material. São percepções sobre jornalismo, cultura pop e outros temas que podem dar origem a outras pesquisas e comparações no futuro.
Emeritus: Quais os aprendizados possíveis para os alunos de Graduação que figuram no e-book como autores?
Profª Drª. Roberta Scheibe: Ter a oportunidade de aprofundar conteúdo. Tanto conteúdo aprendido em sala de aula quanto da pesquisa mais intensa do objeto de estudo, e de como funciona a elaboração de um artigo acadêmico. O engajamento com os outros autores, trocando experiências e sabendo lidar com pontos de vista diferentes no desenvolvimento de um texto comum também é muito importante. O próprio processo de revisão do artigo ensina bastante ao aluno, no sentido de ter visões e ideias diferentes sobre um objeto que, no início, o estudante achou que só poderia desenvolver por um caminho, e das contribuições de edição de texto, formatações e uniformizações de linguagem. O processo de revisitar o que escreveu e fazer os ajustes é muito importante para esse processo de amadurecimento científico. Não é todo mundo que tem a oportunidade de ter no currículo a publicação de um capítulo de e-book ainda na Graduação. Muitas vezes isso só acontece no Mestrado ou no Doutorado. Então, fica como um diferencial, uma oportunidade única para o aluno.
Emeritus: O que destaca de mais interessante no que se refere aos temas/textos do e-book?
Profª Drª. Roberta Scheibe: Acho que o mais interessante é a divisão por blocos temáticos, demonstrando o estilo do Comertec Jr., que deu origem ao e-book. Ou seja, o leitor poderá acompanhar diferentes pontos de vista sobre Jornalismo, Rádio, Educomunicação, Filmes e Séries. Isso facilita até para o leitor que quer entender mais profundamente sobre apenas um dos blocos temáticos e pode direcionar sua atenção aos textos do assunto que desejar. Além daquelas questões que mencionei anteriormente, de oferecer um relato da geração atual tratando de questões como jornalismo e cultura pop em um tempo-espaço específico, podendo render comparações futuras sobre a realidade daquele momento com os mesmos objetos de estudo.
Emeritus: Qual é a contribuição do e-book para a Universidade Federal do Amapá? E para a área de Comunicação?
Profª Drª. Roberta Scheibe: Todos os e-books e livros que os professores ou os alunos publicam são muito valorizados pela Unifap. Sobretudo porque eles contribuem para um registro histórico e social da Comunicação do Estado do Amapá, porque, querendo ou não, como o Amapá é um Estado da Federação novo, que recebeu status de Estado em 1988, ainda há pouca bibliografia acerca do que acontece aqui em termos de Comunicação, ou do que se analisa de Comunicação feita no Amapá. Então, por isso que eu digo que todo texto, desde o do estudante de iniciação científica, que ainda está galgando seu caminho científico, até o do Doutor em Ciências da Comunicação ou outras áreas afins, pode contribuir muito para esse registro histórico, social e de memória da evolução do campo da Comunicação no Amapá. E outro ponto é que o e-book consegue suprimir distâncias, no sentido de que nós conseguimos compartilhar o conhecimento daqui com o restante do Brasil e até de outros países, especialmente por meio da Internet. Há essa facilidade muito grande de disseminação da informação científica e possível debate acerca dos temas estudados.
Emeritus: Como se deu a organização do livro? Como foi o contato entre os organizadores, a dinâmica para organização, a definição de cronograma, a revisão dos textos etc?
Profª Drª. Roberta Scheibe: Nós fizemos dois encontros presenciais bem antes do início da pandemia do novo coronavírus. E, posteriormente, a partir de fevereiro, tivemos conversas por meio digital. Também criamos um grupo no Whatsapp para trocar informações, deliberar a respeito de versões dos textos etc. E foi a partir dessas discussões entre os docentes que foram escolhidos os nomes das professoras que seriam convidadas para a redação da Introdução e do Prefácio, a ordem dos capítulos nos blocos temáticos, o cronograma, entre outros tópicos.
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